segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Há um ditado indiano: se você foi atingido por uma flecha envenenada, é preciso primeiro removê-la. Não há tempo para perguntar quem atirou, que tipo de veneno há nela e tudo mais. Primeiro, lide com o problema imediato, mais tarde podemos investigar.
De modo similar, quando encontramos sofrimento humano, é importante responder com compaixão em vez de questionar a política por trás das pessoas que ajudamos. Em vez de perguntar se o país delas é inimigo ou aliado, devemos pensar: “esses são seres humanos, eles estão sofrendo, e têm um direito à felicidade igual ao nosso”.
Nossa atitude em relação ao sofrimento é muito importante porque pode afetar como lidamos com ele quando surge. Nossa atitude usual consiste em uma aversão intensa e intolerância em relação à nossa própria dor e sofrimento. Contudo, se pudermos transformar nossa atitude, e adotar uma que nos permita maior tolerância, isso pode nos ajudar bastante a contrabalancear sentimentos de infelicidade, insatisfação e descontentamento mentais.

Dalai Lama

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

SOBRAS DE AMOR

A mãe chegou no quintal da casa, livrou-se do fardo de lenhas, restou o peso da filha que ainda carregava na barriga prenha. Sentou-se prenha de alma de dor e dor de não saber quando seria o parto da falta de esperança do fim da dor infinda.
Acendeu o fogo com gravetos da última leva, esquentou a sopa, sobra da janta, com perplexidade da lembrança de saber-se sem dor ao fugir com o amor que a desprezara de sobra. Engolia o choro e ele descia goela abaixo com o caldo quente para a filha, sobra de sonho, com dor de solidão e do nada.
A filha sobra no físico, no viver e no doer, desejando sobrar na própria realidade para refugiar-se da dor de sobra da história lenhada, indiferente de ser e de amar.
Vem-lhe dentro da bolsa o líquido da sopa e do choro diluídos no amargo veneno do ser desprezado e descrente que a carrega. Aquela estufa líquida espuma com a sobra da dor. Sorve, então, goela adentro, frenético meio de sobreviver, o caldo quente da mãe, sobra do desaconchego e do chegar indesejado.
Filha e mãe, sobras de amor, deglutem a sobra das dores mútuas, procurando aliviarem-se, gemendo-se para consolarem o enfastio de carregar e ser carregada.
Em dado momento, a mãe não consegue deglutir mais o líquido quente, passando a lutar com os vômitos das sobras puxando da filha o desconforto de ser, irremediavelmente, a dor instalada, irreversivelmente em sobra. A tal ponto, com o refluxo dilatando a bolsa para rompê-la e se aliviar do peso da barriga, da continuidade, do sonho que seria partilhado não fosse o abandono como sobra da troca.
A filha, doída, reflui seu líquido e destino no ritmo da mãe para libertá-la do peso, imprimindo sua negação e assim apagar o testemunho de uma história diluída na dor.
Estira-se de parede a parede procurando saída, disposta para o doer que viesse, retorce o cordão para puxar o interior da dilaceração da mãe, para lhe dar esperança de que dentre suas sobras ficaria livre da mais infastiosa, aliviaria o peso de sua coluna, a dor de ninar a sobra da própria esperança e o testemunho indesejado.
A mãe sente contração de seus líquidos e das sobras em suas vísceras corre até a bica e sorve água fresca procurando reverter o diluir da vida da filha, chorando-lhe que não se vá porque a dor já é instalada e imutável, independente do seu existir.
A água escorre com dificuldade pelo esôfago até o útero e no caminho refresca cada fissura de dor das ânsias antes vividas, vai apaziguando e solta suas moléculas pelos atalhos necessários para acalmar também a filha, pronta para sobrar-se.
A filha deglute lágrimas com as sobras dos goles da mãe e as lança de volta para sua fonte através dos pulmões provocando-lhe respirações profundas, buscadas de ar, fôlego, calma, aceitação das sobras e a mãe, por sua vez, puxa fundo o ar como uma afogada na dor e aspira mais, coração bate mais forte, esperança forjada goteja dos poros com os suores, cansaço se esvai e vai e, vem o sentir menos fraca de dor, passa a mão na barriga entortada para o lado, que permanece prenha e conformada com as sobras.
Levanta-se, ajeita a filha conformando-a com sua coluna e vai apanhar a resto de lenha para guardar no borralho.
Logo depois, ambas aquietam-se, aquecendo-se como se a friagem fosse apenas da tardinha de inverno….

domingo, 15 de dezembro de 2013

Poema de Fernando Pessoa

Onde você vê um obstáculo,
 alguém vê o término da viagem
e o outro vê uma chance de crescer.

Onde você vê um motivo pra se irritar,
alguém vê a tragédia total
e o outro vê uma prova para sua paciência.

Onde você vê a morte,
alguém vê o fim
e o outro vê o começo de uma nova etapa...

Onde você vê a fortuna,
alguém vê a riqueza material
e o outro pode encontrar por trás de tudo,
a dor e a miséria total.

Onde você vê a teimosia,
alguém vê a ignorância,
e um outro, compreende as limitações do companheiro,
percebendo que cada qual caminha seu próprio passo.

E que é inútil querer apressar o passo do outro,
a não ser que ele deseje isso.
Cada qual vê o que quer,
pode ou consegui enxergar.

“Porque, eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O encontro


“Como o senhor entrou na vida espiritual?”, perguntou um discípulo do sufi Shamse Tabrizi.
 “Minha mãe dizia que eu não era louco bastante para ser internado num hospício nem bastante concentrado para entrar num mosteiro.  Resolvi me dedicar ao sufismo.”
“E como explicou isso a sua mãe?”
“Com uma fábula:  puseram um patinho para que uma gata tomasse conta.  Ele seguia sua mãe adotiva por toda parte.  Um dia, foram ao lago, o patinho entrou na água e disse –‘ vou continuar no meu ambiente, mesmo que minha mãe não saiba o que significa uma lago’”

domingo, 1 de dezembro de 2013

Paciência


Paciência,  e mais paciência, capacita uma mente fechada a se abrir gentilmente. Às vezes leva tempo para um hábito interno mudar ou para um novo entendimento realmente penetrar na mente. Quando continuamos a nos dedicar com humildade, entender o que nos cerca e promover o autodesenvolvimento através da espiritualidade, então experimentamos a mudança que queremos. Que hoje eu aprecie a experiência de ser paciente.

Brahma Kumaris