sábado, 7 de setembro de 2013

O amor maduro


O amor maduro não é menor em intensidade.
Ele é apenas quase silencioso.
Não é menor em extensão.
É mais definido, colorido e poetizado.
Não carece de demonstrações:
presenteia com a verdade do sentimento.
Não precisa de presenças exigidas:
amplia-se com as ausências significantes.

O amor maduro tem e quer problemas,
sim, como tudo.
Mas vive dos problemas da 
felicidade.
Problemas da felicidade são formas trabalhosas
de construir o bem e o prazer.
Problemas da infelicidade não interessam
ao amor maduro.

Na felicidade está o encontro de peles,
o ficar com o gosto da boca e do cheiro,
está a compreensão antecipada, a adivinhação,
o presente de valor interior,
a emoção vivida em conjunto,
os discursos silenciosos da percepção,
o prazer de conviver,
o equilíbrio de carne e espírito.
Carne intensa, alegre, 
criança, redescobrimento
das melhores dimensões pessoais e alma refeita,
abastecida de todas as 
proteções necessárias,
um enorme empório de afinidades acima e além
de meras concordâncias intelectuais.
Os problemas daí derivados
são os problemas da felicidade.
Problemas, sim, alguns graves.
Mas estalantes de um sentimento bom.

Na infelicidade está a agressão, o desamor,
o não conseguir, a rejeição, a dor, o cansaço,
a troca com perda, a obrigação, o tédio, o desencontro, o insulto, o ciúme machucante,
as futricas de família,
as peles se eriçando e os toques que dão susto.
Os problemas da infelicidade não devem ser
trazidos para a trama do amor maduro.
O amor maduro é sólido e definido.
Mas estranhamente se recolhe quando
invadido pelos problemas
da infelicidade que fazem a glória
do amor imaturo.
Acaba acabando.

O amor maduro não disputa, não cobra,
pouco pergunta, menos quer saber.
Teme, sim.
Porém não faz do temor argumento.
Basta-se com a própria existência.
Alimenta-se do instante presente valorizado e importante porque redentor de todos
os equívocos do passado.
O amor maduro é a regeneração de cada erro.
Ele é 
filho da capacidade de crer e continuar.
É o sentimento que se manteve mais forte
depois de todas as ameaças,
guerras ou inundações existenciais com
epidemias de ciúme, controle ou agressividade.

O amor maduro é a valorização do melhor
do outro e a relação com a parte
salva de cada pessoa.
Ele vive do que não morreu mesmo
tendo ficado para depois.
Vive do que fermentou criando dimensões novas
para sentimentos antigos,
jardins abandonados cheios de sementes.
Ele não pede, tem.
Não reivindica, consegue.
Não persegue, recebe.
Não exige, dá.
Não pergunta, adivinha.
Existe, para fazer feliz.
Só teme o que cansa, machuca ou desgasta.

O amor maduro não precisa de armaduras, coices, cargos, iluminuras, enfeites, papel de presente, flâmulas, hinos, discursos ou medalhas:
vive de uma percepção tranquila
da essência do outro.
Deixa escapar a carência
sem que pareça paupérrima.
Demonstra a necessidade sem que pareça voraz. Define uma dependência
sem que se manifeste humilhante.

O amor maduro cresce na verdade e se
esconde a cada auto ilusão.
Basta-se com o todo do pouco.
Não precisa nem quer nada do muito.
Está relacionado com a vida e sua incompletude,
por isso é pleno em cada ninharia por ela transformada em paraíso.
É feito de compreensão, música e mistério.
É a forma sublime de ser adulto e a forma
adulta de ser sublime e criança.

É o sol de outono: nítido, mas doce.
Luminoso, sem ofuscar.
Suave, mas definido. Discreto mas certo.
Um sol, que aquece até queimar. 
 (  Arthur da Távola )

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