O orgulho é a consciência (certa ou errada) do
nosso próprio mérito, a vaidade, a consciência (certa ou errada) da evidência
do nosso próprio mérito para os outros. Um homem pode ser orgulhoso sem ser
vaidoso, podem ser ambas as coisas, vaidoso e orgulhoso, pode ser — pois tal é
a natureza humana — vaidosa sem ser orgulhoso. É difícil à primeira vista
compreender como podemos ter consciência da evidência do nosso mérito para os
outros, sem a consciência do nosso próprio mérito. Se a natureza humana fosse
racional, não haveria explicação alguma. Contudo, o homem vive a princípio uma
vida exterior, e mais tarde uma interior; a noção de efeito precede, na
evolução da mente, a noção de causa interior desse mesmo efeito. O homem
prefere ser exaltado por aquilo que não é a ser tido em menor conta por aquilo
que é. É a vaidade em ação.
Fernando Pessoa, in "Da Literatura Europeia”.
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